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SANTA CATARINA
Metálico
TIPO:
CLASSE:
CLAN:
GRUPO:
SUB-GRUPO:
TIPO PET.:
EST. CHOQUE:
INTERPERISMO:
PAÍS:
ANO:
DESCRIÇÃO:
ACONDRITO
ATAXITO
IAB
BRASIL - SC
1875
Meteorito Metálico Ataxito IAB.
PETROGRAFIA:
O meteorito Santa Catarina é um ataxito rico em níquel, ou seja, é caracterizado pela ausência das estruturas de Widmanstätten, que estão presentes nos octaedritos e são definidos pelo aparecimento de lamelas entrelaçadas de kamacita que seguem uma orientação octaédrica quando a superfície de um meteorito metálico é atacada por nital. meteorito Santa Catarina analisado pela técnica de microssonda eletrônica apresentou uma fase metálica constituída de tetrataenita e taenita. Rachaduras foram encontradas na fase metálica, preenchidas com magnetita. Minerais sulfetados, como a troilita e a pentlandita puderam ser identificados. Cristais de schreibersita e rhabdita também foram reconhecidos, os primeiros como inclusões na fase metálica, enquanto que os segundos estavam próximos da troilita e da pentlandita. Descrição obtida na dissertação de Iara Ornellas, disponibilizada neste site em publicações.
GEOQUÍMICA:
Os pontos analisados na parte mais escura (tetrataenita) contêm de 37 a 44% de níquel, enquanto que a parte mais clara (taenita) apresenta teores em torno de 32% de níquel. Analisando estes resultados, a fase da taenita parece ser a mais homogênea, já que há uma variação muito pequena nos teores de Ni. Enquanto a tetrataenita demonstrou se a mais heterogênea devido à variação nos teores de níquel. Pode-se observar que os resultados obtidos pelo mineralogista Alexis Damour, publicados no Comptes Rendus, para Fe (63,69%) e Ni (33,97%), estão muito próximos dos valores encontrados para a taenita. Descrição obtida na dissertação de Iara Ornellas, disponibilizada neste site em publicações. Dados obtidos eValores obtidos em Buchwald (1975): 35.3% Ni, 0.6% Co, 0.2% P, 1.8% S, 5.4 ppm Ga, 9.6 ppm Ge, 0.020 ppm Ir.
CLASSIFICAÇÃO:
Santa Catharina é um meteorito anômalo de alta idade terrestre. Está muito relacionado com Twin City (30% Ni). É policristalino com abundante troilita e schreibersita nos limites de grãos. A schreibersita, sob uma exposição terrestre prolongada, provou ser o mineral mais estável dentre os minerais acessórios, onde a kamacita, taenita e troilita são exibidos vários graus de deterioração. Como não apresentou estrutura de Widmanstätten após ataque químico, foi classificado como uma ataxito do grupo químico IAB. O link para entrada deste meteorito no Handbook of Iron Meteorites é http://evols.library.manoa.hawaii.edu/bitstream/handle/10524/35877/vol3-San-SantaL(LO).pdf#page=9 . Fonte: Buchwald (1975).
CLASSIFICADORES:
Não informado pelo Meteoritical Bulletin Database. É possível ver as diversas contribuições de autores ao longo do século na dissertação de Iara Ornelas (2017), disponibilizado em Publicações.
HISTÓRIA:
O meteorito Santa Catarina foi descoberto, no ano de 1875, em São Francisco do Sul, sendo, provavelmente, nomeado como Santa Catarina, pois esta era uma província do império brasileiro. Esse foi o primeiro de outros deslizes que rondam esta história que se iniciou com a suspeita de que existiriam naquela região reservas minerais de ferro viáveis de serem exploradas. A primeira notícia sobre a descoberta do meteorito foi publicada, em um conhecido jornal que circulava na província de Santa Catarina, no dia 23 de janeiro de 1875. O texto foi um ofício do então presidente da província — João Thomé da Silva (1842 – 1884) — para um engenheiro chamado Etienne Donat5, requisitando que este fizesse uma avaliação técnica sobre a viabilidade de exploração de uma provável jazida de ferro na região. Segundo Hostin (1999), Etienne Donat, que estava presente em São Francisco do Sul para obras na região, relatou suas observações sobre a descoberta na Ilha através de uma carta — enviada com uma amostra da massa meteorítica —para João Thomé da Silva, enfatizando a localização privilegiada do achado (em torno de 3 Km ao sul da cidade) e as propriedades metálicas do material. O presidente da província de Santa Catarina precisava de mais informações sobre a descoberta em São Francisco do Sul para informar ao governo imperial. Este, então, de posse de mais dados, poderia deferir ou não o pedido de requerimento que alguns habitantes da ilha fizeram para explorarem comercialmente a provável reserva de ferro. Na carta endereçada ao João Thomé da Silva, publicada em 30 de janeiro de 1875, o engenheiro cita o nome dos senhores Valetim Antonio de Souza6 e Antonio da Cunha Maciel7 (proprietário de partes do terreno, onde foram encontrados os fragmentos do meteorito), que juntamente com outros habitantes da ilha, pretendiam conseguir uma autorização do governo imperial para exploração daquela área. Donat expôs suas impressões sobre o referido local, explicando que mesmo não possuindo conhecimento para identificar jazidas de ferro, acreditava que aquele depósito poderia ser uma potencial fonte de mineração. Sugeria, assim, que o império levasse a questão a um engenheiro mineralogista para uma pesquisa mais detalhada a fim de descobrir se realmente existiria ou não uma jazida de ferro na região. Argumentou que, ―a riqueza do mineral em ferro é evidente e parece prometer de 88 a 90%‖. E, devido a isto, a autorização para exploração deveria ser concedida. Enfatizou a posição privilegiada em relação ao porto, falando da facilidade da exportação dos minerais extraídos e de como esta descoberta poderia revolucionar a economia de São Francisco do Sul. E por que relacionar esta notícia com a descoberta do meteorito? Esta relação poder ser baseada em três argumentos. Primeiro, a localização em comum – São Francisco do Sul; segundo, a data de veiculação da publicação – 1875; e terceiro, os envolvidos no caso. Este terceiro ponto merece alguns esclarecimentos: o crédito pelo achado desta massa meteorítica, que na época se configurou como uma provável jazida de ferro foi atribuída a Manuel Gonçalves da Rosa. Segundo Lunay (1877, p. 84), o mineral, que na verdade era o meteorito, foi descoberto por Manoel Gonçalves da Rosa, na Comarca de Nossa Senhora da Graça, na província de Santa Catarina, na encosta sul de uma montanha popularmente conhecida como Rocio. Foram encontrados quatorze fragmentos espalhados pelo local. Alguns desses pedaços pesavam, respectivamente: 2250 quilogramas, 300 quilogramas, 450 quilogramas, 375 quilogramas e 1500 quilogramas. Apesar de Manuel Gonçalves ter sido o primeiro a encontrar o meteorito, seu nome não foi citato na publicação, anteriormente exposta, que data do dia 30 de janeiro de 1875. Entretanto, Valetim Antonio de Souza e Antônio da Cunha Maciel estavam entre aqueles que pretendiam explorar a área. E analisando o decreto imperial nº 6126 de 23 de fevereiro de 1876 que concedeu a tal autorização, pode-se observar que Manuel Gonçalves da Rosa, Valetim Antonio de Souza e Antônio da Cunha Maciel foram contemplados com a respectiva concessão para sondagens minerais do terreno (BRASIL, 1876). A íntegra deste documento pode ser visualizada no ―ANEXO B‖ deste trabalho. Logo, conclui-se que a descoberta da pretensa jazida de ferro é, na verdade, o achado do próprio meteorito. Da análise das notícias anteriores, pode-se pressupor que o presidente da província de Santa Catarina provavelmente deu prosseguimento ao estudo de tal descoberta. E a instituição brasileira que na época detinha as condições para uma pesquisa mais aprofundada era exatamente a Escola Polytechnica do Rio de Janeiro. No início da fundação desta instituição, o império brasileiro importou algumas técnicas e professores franceses, facilitando assim, a comunicação e divulgação científica entre o Brasil e a França. Charles Ernest Guignet (1829 – 1906) — professor francês, e Gabriel Ozorio de Almeida (1854 - 1926) — aluno da instituição na época (HANSEN, 2005), foram os responsáveis pela análise do fragmento do meteorito Santa Catarina. Este fragmento foi entregue a Guignet e Ozonio por André Rebouças (1838 – 1898) — o primeiro engenheiro negro do Brasil. E pode-se pressupor que se tratava da amostra enviada por Etienne Donat ao presidente da província de Santa Catarina — João Thomé da Silva — para o aprofundamento das pesquisas. Os resultados de Guignet e Ozorio foram, então, publicados no Comptes Rendus de 1876, produzindo uma sequência de estudos sobre o meteorito Santa Catarina. Esta descoberta atraiu a atenção de pesquisadores franceses, iniciando, então, um debate sobre a origem extraterrestre do achado. Vale lembrar que o meteorito, inicialmente, foi intitulado como uma pretensa jazida de ferro, principalmente, devido ao seu aspecto físico, e os próprios professores o denominaram de ―curioso mineral‖. Guignet e Ozorio analisaram o fragmento de meteorito, obtendo a proporção de 64% de ferro e 36% de níquel, utilizando para tanto, ácido clorídrico, ácido nítrico e carbonato de bário (MORIN, 1876, p. 917). Em um capítulo posterior será feita uma análise comparativa das técnicas analíticas da época com as atuais no que tange ao estudo de massas meteoríticas. Os professores Guignet e Ozorio, provavelmente, já suspeitavam que o achado se tratasse de um meteorito. No início da publicação, eles identificam o fragmento como ―curioso mineral‖, porém, no decorrer do texto, fazem alguns apontamentos sugestivos da origem extraterrestre da descoberta. Teriam eles a intenção de iniciar um debate? Esta publicação sobre as primeiras análises da amostra foi complementada com comentários do geólogo francês Gabriel Auguste Daubrée (1814 – 1896), que esteve ativamente envolvido em pesquisas e em debates posteriores. Este pesquisador focou suas discussões nos questionamentos levantados a respeito da origem extraterrestre do achado, citando, para tanto, o aparecimento das figuras de Widmanstätten (DAUBRÉE, 1876, p. 918). Comparou esta descoberta com a expedição do senhor Nordenskiöold, em 1870, para Ovifak, na Groelândia, que resultou no encontro, também, de uma massa de ferro. Enfatizou a necesidade de se analisar ambas as situações e evitou tirar conclusões precipitadas. À massa de ferro de Ovifak foi, posteriormente, atribuída a uma origem terrestre. E como havia similaridades entre ambas, a discussão sobre se o achado de São Francisco do Sul era ou não um meteorito permaneceu ativa por algum tempo. Essas primeiras publicações no Comptes Rendus foram feitas em 1876 e são atribuídas aos resultados obtidos por Guignet e Osorio, que trabalharam nos laboratórios da Escola Polytechnica. Consta em publicações do ano de 1877, expostas a seguir, que amostras do meteorito foram enviadas ao geólogo Daubrée, na França, para o aprofundamento das análises. Segundo Damour (1877, p. 478), ―Daubrée, tendo recebido algumas amostras, me pediu para examiná-las12‖. O mineralogista Alexis Damour (1808 – 1902) realizou estudos em amostras do meteorito Santa Catarina. Em sua publicação, descreveu a metodologia para quantificar os seguintes elementos químicos: Fe: 63,69%; Ni: 33,97%; Co: 1,48%; S: 0,16%; C: 0,20%; Si: 0,01 % e P: 0,05%. Enfatizou o aparecimento das figuras de Widmanstätten ao se tratar uma superfície polida com um ácido, porém foi cauteloso ao afirmar: ―Este ferro, que presumo que seja originado de um meteorito13 [..]‖. Logo, observa-se através desta fala que o debate para definir se o achado é de origem terrestre ou extraterrestre ainda estava em aberto (DAMOUR, 1877, p. 478-481). 14 Os resultados de Alexis Damour foram acompanhados de uma análise de Daubrée, que explicitou algumas observações suas sobre a descoberta: o fragmento estudado possuía uma estrutura brechiforme15 similar ao verificado no siderito do Atacama, o que poderia indicar a maneira pela qual esta massa meteorítica foi formada; as figuras de Widmanstätten eram percebidas após o tratamento de uma superfície polida com ácido, apesar de apresentarem linhas muito finas, estas se pareciam com estruturas geométricas regulares, fazendo com que o estudioso concluìsse que esses traços correspondiam ―ao truncamento de um cubo em um octaedro regular16(DAUBRÉE, 1877, p. 483); a magnetita e a pirrotita foram descritos pelo geólogo francês (DAUBRÉE, 1877, p. 482-485). Provavelmente, o mineral identificado como pirrotita (Fe1-xS) era troilita (FeS), pois a pirrotita é um sulfeto terrestre, enquanto que a troilita é encontrada nos meteoritos metálicos (ZUCOLOTTO et al., 2013, p. 139). Analisando um trecho específico escrito por Daubrée, observa-se que existia uma expectativa positiva de que o achado fosse realmente uma jazida. E uma reserva mineral com essa grande quantidade de níquel iria atrair o interesse de terceiros. Os próprios franceses expuseram a vontade de controlar a exploração da pretensa mina. Naquele ponto ainda não estava definido a origem extraterrestre da descoberta. Os debates e as discussões continuaram gerando, cada vez mais, pesquisas. Dom Pedro II recebeu notícias sobre a descoberta do meteorito em São Francisco do Sul, apresentando-as na Academia de Ciências de Paris. Vale lembrar que no momento da correspondência ainda não estava definido a origem extraterrestre do achado. O informe pode ser observado em um trecho de uma carta de Guignet para o imperador, relatando as pesquisas em andamento na Escola Polytechnica. Mas, então, quando foi definido a origem extraterrestre do achado? Como explicado anteriormente, havia uma expectativa positiva de que a descoberta na província de Santa Catarina fosse uma pequena amostra de uma jazida economicamente viável com grande quantidade de níquel. Quantas possibilidades poderiam se abrir, principalmente com o uso industrial deste elemento químico? A polêmica sobre esta massa de ferro e níquel se concentrou na porcentagem deste último, pois não se conhecia, naquela época, minerais com tais características na superfície terrestre. É, portanto, absolutamente aceitável, que mesmos os resultados obtidos nas análises dos fragmentos estivessem apontando para a origem extraterrestre, como o aparecimento das figuras de Widmanstätten, os cientistas se mostrassem cautelosos em encerrar tal discussão. Entretanto, este posicionamento prudente mudou completamente quando Charles Frederick Hartt (1840 – 1878) — geólogo responsável pela Comissão Científica do Império — visitou o local da descoberta. Esta visita de Charles Hartt foi descrita em uma carta de Guignet para Daubrée. E as observações feitas pelo naturalista foram imprescindíveis para o encerramento da polêmica. O fato das rochas das vizinhanças serem completamente diferentes da massa meteorítica; e, principalmente, a impossibilidade de se encontrar novas amostras do achado levaram os cientistas a concluírem, juntamente com as análises anteriores, de que se tinha descoberto um meteorito. Como dito anteriormente, não foi possível encontrar novas amostras no local, que se supõe sejam grandes blocos, pois pequenos fragmentos foram encontrados em expedições posteriores, então, que fim levou essa massa meteorítica? Mesmo que algumas amostras tenham sido enviadas para a Escola Polytechnica e para a França, com certeza, restaram muitos quilogramas do meteorito. Este fato será mais detalhado em um subitem posterior. A Escola Polytechnica foi essencial na divulgação e no aprofundamento das pesquisas neste caso, e até mesmo, na preservação da história. O estreitamento da comunicação científica entre brasileiros e franceses, ocorrido pela vinda de professores da França para a esta instituição, possibilitou um maior compartilhamento de informações. Em relação ao meteorito, os textos dos estudos — publicados no Comptes Rendus — foram as referências primárias para que o engenheiro Luiz Felipe Gonzaga de Campos20 (1856 – 1925) realizasse, em 1884, uma nova expedição para a Ilha de São Francisco do Sul. Desse novo empreendimento, outros fragmentos foram encontrados. Estes encontram-se, atualmente, no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro; e a massa principal foi utilizada, neste trabalho, para a realização de análises químicas e mineralógicas. Logo, as publicações dos estudos no Comptes Rendus de pesquisadores franceses e brasileiros, entre os anos de 1876 a 1878, foram referências imprescindíveis para pesquisas posteriores, o que confirmou a origem extraterrestre do achado. Isto evitou que esta descoberta, tão importante para a Astronomia, fosse apagada da memória acadêmica. E a criação da Escola Polytechnica foi indispensável em todo esse processo. Descrição obtida na dissertação de Iara Ornellas, disponibilizada neste site em publicações.
Todas as informações que não possuírem fonte especifica, foram extraídas do Meteoritical Bulletin Database.
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